“A intensificação da terceirização é a volta da escravidão”

Publicado em 31/08/2016

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O aprofundamento da terceirização não é apenas uma realidade apenas brasileira, mas um fenômeno em escala global. A externalização da produção é decorrente dos últimos abalos que os alicerces capitalistas sofreram a partir de 1968. Desde então, o neoliberalismo ganha força, trazendo a hegemonia do capital financeiro, a acumulação flexível e a eliminação de sindicatos que não se alinhasse com os capitalistas. Aqui no Brasil, governos que não tocam a cartilha dos bancos são descartados, como aconteceu com a Dilma, explica o professor Ricardo Antunes, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

O trabalho reestruturado com maquinário e desprovido de direitos ao trabalhador é o cenário ideal para o capitalismo. O capitalismo pode reduzir ao máximo o trabalho, mas não pode eliminá-lo, afirma. Antunes aponta alguns exemplos internacionais de flexibilização, precarização e terceirização do trabalho:

Na Inglaterra, existe algo chamado de contrato de 0h. É um contrato sem tempo determinado. Você só trabalha e ganha quando for solicitado, mas tem que estar de prontidão o tempo todo;

O serviço de Uber também é um exemplo. Enquanto táxi paga taxas e impostos, os motoristas de Uber nada pagam para prestar esse serviço. Está havendo uma uberização do trabalho;

O Wal Mart, nos EUA, terceiriza contratos, que nada mais é que a terceirização da mão-de-obra. A empresa tem de 6 a 9 mil fornecedores que, por sua vez, tem 60 mil empresas. Muitas delas no sul da China, onde se sabe que há abusos ao trabalhador;

O empresário brasileiro vai à China comprar um par de meias com a marca da Lacoste costurada por U$2 e a vende aqui no Brasil por R$80.

Ricardo Antunes acredita que esses exemplos indicam que a precarização do trabalho é a tragédia do nosso tempo, pois a exceção está virando a regra. A intensificação da precarização do trabalho é a volta da escravidão. Onde não há luta, onde não há resistência, o empresariado se agranda, completa.

PLC 30/2015

Especificamente sobre a PLC 30/2015, projeto de lei que permite a terceirização da atividade fim de uma empresa, o professor enumera o porquê de essa proposta interessar tanto aos empresários nos dias de hoje. Primeiro que diminui os custos da força de trabalho, afinal trabalho é custo para eles. As empresas que contratam serviços de terceirizadas não pagam direitos trabalhistas, esse problema é das terceirizadas. Por fim, a crise é a hora em que os empresários arrebentam com a classe trabalhadora. Para Antunes, a terceirização é proporcional ao desemprego: quanto mais gente terceirizada, maior é o desemprego.

Fazendo um balanço do governo em exercício de Michel Temer. Ao mesmo tempo em que Henrique Meirelles sinaliza mexer na previdência e na lei da terceirização, Temer não indica que vai taxar as grandes fortunas e os bancos, conclui. Em suma, a perspectiva com Temer é a do fim dos direitos dos trabalhadores, pois, para o professor e pesquisador, a terceirização é o vilipêndio do trabalho.

Fonte: Ricardo Antunes, Professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).