Retrospectiva: polêmicas e recuos do primeiro mês de governo Bolsonaro

Publicado em 01/02/2019

Primeiros 31 dias da nova equipe foram marcados por idas e vindas e suspeitas de corrupção na família do presidente

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Eleito em outubro de 2018, Jair Bolsonaro (PSL) tomou posse em 1º de janeiro de 2019. Em um mês, o novo governo protagonizou incontáveis polêmicas e recuos imediatos. O cenário político também foi marcado por suspeitas envolvendo o filho mais velho do presidente, o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL). 

Confira abaixo os principais fatos que marcaram o primeiro mês do governo Bolsonaro:

Dia 1º  – A cerimônia de posse foi marcada por um discurso "nos moldes da campanha". O presidente eleito disse que o Brasil começava a se libertar do socialismo e que a bandeira do país jamais será vermelha. O teor do pronunciamento não passou desapercebido pela imprensa internacional. A relação do novo governo com profissionais da comunicação no evento, marcada por restrições inéditas a jornalistas, também repercutiu negativamente fora do país.

Ainda no primeiro dia, o governo editou a Medida Provisória 870, que estabelece a reforma administrativa da nova gestão. Na reformulação constavam alterações relevantes, como a transferência do Coaf para o Ministério da Justiça, a transferência de competência para demarcação de terras indígenas da Funai para o Ministério da Agricultura, controlado pelos ruralistas, o enfraquecimento de órgãos de participação e o monitoramento de organizações da sociedade civil pela Secretaria de Governo. 

Dia 2 – Cerimônias de posse dos ministros. Paulo Guedes (Economia) afirmou que Reforma da Previdência será eixo central do governo. Ernesto Araújo (Itamaraty) defendeu o fim do globalismo. Damares Alves (Direitos Humanos) disse que o Estado é laico, mas esta ministra é terrivelmente cristã, acrescentando que na nova gestão, menina será princesa e menino será príncipe. 

Dia 3 – Em entrevista ao SBT, o presidente anunciou que o governo estuda pautar o fim da Justiça do Trabalho. O anúncio gerou reações de diversas entidades, como a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD). Na mesma oportunidade, aventou a instalação de uma base militar dos EUA no Brasil.

Dia 4 – Bolsonaro informou o aumento do IOF e a redução da alíquota do teto do Imposto de Renda. No mesmo dia, foi "corrigido" por um integrante do segundo escalão, o secretário especial da Receita, Marcos Cintra. 

Dia 7 – Novos presidentes da Caixa, Banco do Brasil e BNDES tomaram posse. Pedro Guimarães, da Caixa, afirmou que juros habitacionais devem ser orientados pelos padrões "do mercado".

Dia 8 – Imprensa noticiou a promoção do filho do vice-presidente, Hamilton Mourão, no Banco do Brasil.  Antonio Mourão se tornou assessor especial do presidente da instituição, Rubem Novaes, e teve o salário triplicado. No mesmo dia, o Brasil anunciou sua saída do Pacto Migratório da ONU e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) afirmou que o país não terá base estadunidense, ao contrário do que havia indicado Bolsonaro: Fizeram um auê disso aí. 

Dia 9 – Governo voltou atrás e anulou modificação que permitia a aquisição de livros didáticos sem revisão e sem referências bibliográficas. Fernando Azevedo e Silva (Defesa), defendeu que militares tenham tratamento diferenciado na Reforma da Previdência. 

Dia 10 – Bolsonaro abriu mão e utilizar poder de veto do governo para barrar aquisição da Embraer pela estadunidense Boeing. O filho, Flávio Bolsonaro, não compareceu ao depoimento marcado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro relativo ao "caso Queiróz". 

Dia 11 – General Edson Leal Pujol assumiu como comandante do Exército e defendeu que militares fiquem fora da Reforma da Previdência. 

Dia 15 – Bolsonaro assinou o decreto que facilita a posse de armamento no país – apesar das pesquisas de opinião que apontam rejeição majoritária à medida. Especialistas em Segurança Pública entendem que a medida pode ampliar crimes violentos no país. 

Dia 16 – Mauricio Macri, presidente da Argentina, visitou Bolsonaro em Brasília. Nabhan Garcia, secretário de Assuntos Fundiários, defendeu fechamento de escolas rurais em assentamento do MST.

Dia 17 – Luiz Fux, ministro do STF, suspendeu investigação relativa a Fabrício Queiroz, a pedido da defesa de Flávio Bolsonaro – que alega que o ex-deputado estadual é investigado de fato e não mera testemunha.

Dia 18 – Novo relatório do Coaf apontou movimentações financeiras na ordem de R$ 96 mil na conta bancária de Flávio Bolsonaro. Dois dias depois, o senador eleito afirmou que as movimentações diziam respeito a venda de imóvel – ainda que datas na escritura não sejam condizentes com datas dos depósitos. 

Dia 21 – Bolsonaro chega a Davos, na Suíça, para participar do Fórum Econômico Mundial. Como interino, Mourão declarou em entrevista que a flexibilização da posse de armas não resolve problema da segurança pública. 

Dia 22 – Presidente discursou em Davos por menos de dez minutosRepercussão internacional do pronunciamento, que falseou dados sobre meio ambiente, foi negativa. No mesmo dia, uma operação conjunta do Ministério Público e da Polícia Civil prendeu milicianos suspeitos da morte de Marielle Franco. Um dos suspeitos teve parentes empregados pelo gabinete de Flávio Bolsonaro. Em 2018, outra operação prendeu milicianos próximo ao parlamentar

Dia 23 – Presidente e ministros cancelaram entrevista coletiva em Davos, após repercussão negativa do discurso de Bolsonaro. 

Dia 24 – Mourão, como interino, editou decreto que dificulta acesso a dados do governo federal. Jean Wyllys, deputado reeleito pelo PSOL, anunciou que não ocupará vaga por conta de ameaças à sua vida e sua família. 

Dia 25 – Rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, Minas Gerais. 

Dia 28 – Mourão afirmou que a embaixada brasileira não se mudará de Tel-Aviv para Jerusalém. Pouco antes, Arábia Saudita havia suspendido alguns frigoríficos brasileiros que exportavam ao país – medida que foi vista como reação às declarações de Bolsonaro sobre o tema.   

Dia 31 – Equipe das Forças de Defesa de Israel, que chegou ao Brasil no dia 27, deixou o país. Na ocasião de sua chegada, o responsável pelas buscas em Brumadinho afirmou que o equipamento trazido por estrangeiros não tinha utilidade para o caso. Pela manhã, uma reportagem da revista Épocadissecou história da "adoção" da filha da ministra Damares Alves: a ministra deteve guarda ilegal de criança indígena a partir de seus seis anos de idade.