Vulnerabilidade de crianças no trabalho

Publicado em 03/06/2014

Vulnerabilidade de crianças no trabalho

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A parte mais fraca em qualquer comparação. Crianças e adolescentes se acidentam e morrem duas vezes mais que adultos no país, já mostrou a Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 2011. Segundo o procurador do Trabalho Rafael Dias Marques, coordenador nacional de combate à exploração do trabalho da Criança e do Adolescente, nada indica que o panorama tenha mudado.
 
A persistência de menores trabalhando em atividades informais, apesar da redução dos índices gerais na última década, dificulta a fiscalização. Além de estar em ambientes de maior risco como carvoarias, comércio ambulante, fabricação de fogos de artifício, atividades de fumo ou nas ruas, jovens ainda têm o corpo em desenvolvimento, o que os torna mais vulneráveis a acidentes.
 
Carregar peso e fazer esforço repetitivo, caso de carregadores mirins de supermercados, pode causar deformações ósseas irreversíveis. Auditor fiscal do trabalho aposentado depois de 37 anos de experiência no combate ao trabalho infantil, o pneumologista baiano Gerson Estrela ressalta os problemas na coluna vertebral de crianças que carregam peso. A deformidade na coluna vertebral causa hérnias de disco. Ele vê uma relação entre o trabalho precoce e o afastamento de indivíduos do mercado de trabalho por questões de saúde. Segundo ele, as doenças que acometem o sistema ósseo e articular correspondem a 70% de todos os afastamentos de trabalhadores.
 
— Uma criança pode conduzir nas costas até 20% do peso dela. Num carrinho de mão de feira ou na Ceasa chegam a carregar 50 quilos. O trabalho infantil é danoso não só socialmente, mas em termos de saúde e de economia — afirma.
 
Câncer na idade adulta
 
No campo, a exposição de jovens trabalhadores aos agrotóxicos em lavouras é maior que a de adultos. Eles têm o aparelho respiratório em formação e aspiram mais, ficando mais suscetíveis a inalar agrotóxicos, e outros produtos químicos. Ainda não têm a visão periférica completamente desenvolvida ficando mais vulneráveis a acidentes. E o coração sofre.
 
“O aparelho cardiovascular ainda frágil, com tamanho reduzido do coração, exposto a situações de esforço, provoca uma sobre demanda de trabalho da bomba cardíaca, colocando-o nos limites da frequência cardíaca com a consequente a fadiga precoce”, diz o estudo da OIT, desenvolvido por Renato Mendes, atual chefe de Finanças e Recursos Humanos da OIT:
 
— Eles têm a pele mais fina e aspiram mais ar. As intoxicações são mais rápidas e violentas. São mais permeáveis aos elementos tóxicos. Os efeitos vão aparecer na idade adulta, na forma de câncer ou infertilidade.
 
Em oficinas mecânicas, o contato com solventes traz mais chance de leucemia.
 
— São vidas perdidas, jovens que serão inválidos e que dependerão da Previdência Social — afirma Marques.
 
Além da desvantagem física, não há equipamento de proteção individual adequado para crianças e adolescentes, lembra o auditor fiscal.
 
Em cidades como Ibimirim, a 339 quilômetros de Recife (PE), o trabalho de meninos entre 9 e 14 anos nas feiras livres da cidade é comum e se inicia na madrugada do sábado. Alguns saem de casa pouco antes da meia noite da sexta-feira e só retornam 12 horas depois. Ganham R$ 3 por frete e, muitas vezes, só se alimentam de salgado e refrigerante.
 
— Tem vez que meu pai não pode vir da roça e a gente precisa de dinheiro para a feira da família. O jeito é carregar frete na feira — afirma José Rafael Veríssimo da Silva, de 11 anos, que está no sexto ano em um colégio municipal.